Sociedade das Relíquias Literárias (#10) O experimento do doutor Heidegger - Nathaniel Hawthorne

8 de janeiro de 2024

Hello meu povo!
Minhas experiências tem sido tão incríveis que estou pensando em dar uma acelerada na leitura dos contos da Sociedade das Relíquias Literárias pra quem sabe assim conseguir correr atrás do prejuízo. Então em janeiro tentarei ler o maior número de histórias que foram lançados neste mesmo mês nos anos anteriores e assim farei até que tenha lido todos, vamos ver no que vai dar, né? O experimento do doutor Heidegger possui uma construção deveras interessante, Hawthorne conduz o leitor durante uma experimentação única, como resultado disso evidencia particularidades do comportamento humano e desperta questionamentos pertinentes referentes ao assunto em questão. E de modo geral eu posso dizer que gostei do que me foi apresentado, ainda assim preciso admitir que, dentre todos os títulos das Relíquias Literárias que li até aqui este foi o que menos me entusiasmou. Isto obviamente não trás ônus a obra, cuja qualidade comprovada não se sustenta apenas pelas minhas impressões, que deixo claro, foram mais positivas que negativas.

O experimento do doutor Heidegger (Dr. Heidegger's Experiment)
Autor (a): Nathaniel Hawthorne
Publicação: Wish
ISBN: B08ZH32D2K | Skoob
Gênero: Ficção Científica / Conto
Ano: 2021
Páginas: 20
Minha avaliação: 3/5★
Você teria coragem de beber da fonte da juventude? Em O experimento do Doutor Heidegger, o convidamos a participar de um experimento misterioso e sombrio. Nathaniel Hawthorne, notável novelista americano, nos guia através dos milagres providos pela água da Fonte da Juventude através de quatro personagens. O que eles irão fazer com a juventude restaurada, resta à história nos dizer.

Quando soube que este conto havia sido escrito por Nathaniel Hawthorne, mal pude conter minha empolgação. A Letra Escarlate é um dos clássicos que pretendo ler em breve e por isso vi diante de mim a oportunidade de ter uma prova, mesmo que breve, do que me espera. A escrita do autor se mostrou deveras descritiva e isso me preocupou um pouco. Não costumo me incomodar com apresentações detalhadas do cenário, por exemplo, mas na minha humilde opinião Hawthorne perdeu um pouco a mão, ainda mais se tratando de uma história tão pequena. Mesmo assim, considero que algumas minúcias expostas em O experimento do doutor Heidegger foram fundamentais para a imersão do leitor, com o avançar da leitura somos apresentados a real importância de alguns elementos cuja menção inicial parecia desnecessária, e isso me causou certa satisfação. No mais, este enredo que parece girar em torno dos poderes mágicos da água oriunda da fonte da juventude, nos guia por caminhos mais complexos e nos desafia a examinar o lado obscuro da humanidade e da juventude.

Ilustração de Caique Pituba 

Certa feita o doutor Heidergger, convidou quatro de seus amigos para uma visita ao seu estúdio. O Sr. Medbourne, o Coronel Killigrew, o Sr. Gascoigne e a viúva Wycherly, todos já com idade avançada e vivendo os dias que sobraram de uma vida decadente, foram convocados para participar de um experimento. Tendo em mãos uma porção de água vinda diretamente da fonte da juventude, o doutor Heidegger achou por bem testar seus efeitos nestes quatro velhos que há muito haviam perdido o viço e os privilégios que a mocidade poderia lhes proporcionar. O ceticismo inicial dos quatro amigos não durou muito uma vez que após a ingestão de uma pequena primeira dose foi possível perceber os efeitos imediatos da água mágica, os sinais do tempo que marcavam os corpos decrépitos foram incrivelmente atenuados a olho nu. Isso bastou para que a euforia tomasse conta do ambiente, todos queriam beber mais e ficar ainda mais jovens, e conforme o processo de rejuvenescimento seguia mais empolgados os quatro ficavam. Tal qual a fénix que ressurgiu das cinzas, os quatro além de alcançarem uma aparência mais jovem também passaram a agir com mais vitalidade, como se o peso dos muitos anos que já haviam vivido os houvessem abandonado completamente.

Antes que bebam, meus caros e velhos amigos, seria de bom tom, com a experiência de vida que possuem, que esboçassem algumas regras para guiá-los ao vivenciar uma segunda vez os perigos da juventude. Pensem que pecado e quão lamentável seria se, com tamanhas vantagens, vocês não se tornassem exemplos de virtude e sabedoria para os jovens de hoje.

O vigor recém recuperado trouxe a tona a verdadeira personalidade dos amigos que, imprudentes, pareciam já não se lembrar das lições aprendidas ao longo dos anos. A jovialidade que se apossou deles transbordava energia e impulsividade. Seus corpos e suas mentes, agora novamente saudáveis, lhes faziam desfrutar de um estado de intenso frenesi. Tudo isso meticulosamente analisado pelo doutor Heidegger que maravilhado observava a loucura capturá-los rapidamente. Confesso que, apesar de saber previamente que os amigos do doutor não eram nenhum exemplo de virtude, me espantei com a postura adotada pelos mesmos. Em um primeiro momento acreditei que os atos e falas questionáveis das "cobaias" poderiam ser resultado de algum efeito colateral da água, contudo, Hawthorne não deixa dúvidas de que eles apenas estavam agindo conforme seus valores. E mesmo que a princípio isso tenha me chocado um pouco, eu não fiquei surpresa de todo, afinal viver no mundo em que vivemos nos prova diariamente que a humanidade, em sua grande maioria, é um produto corrompido desde a sua criação

Por mais que não tenha me empolgado grandemente, O experimento do doutor Heidegger é primoroso. Olhando logo abaixo da superfície podemos perceber que o verdadeiro experimento vai muito além de testar as capacidades rejuvenescedoras da água, o doutor pôde constatar em pouquíssimo tempo o quão feia pode ser a natureza humana, os amigos que na velhice pareciam cordeiros indefesos a espera do abate, ao se tornarem jovens de novo pareciam dispostos a cometerem os mesmos erros de outrora. Gananciosos, vaidosos e precipitados, Medbourne, Killigrew, Gascoigne e Wycherly, deram provas contundentes de que a decadência que os assolou não foi obra do acaso. O fato de os efeitos da água não ocorrerem de forma definitiva acaba sendo uma bênção, e nos faz questionar os perigos de uma humanidade cuja existência não possuísse prazo de validade. 

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