[Resenha] A sombra da terra do nunca - Nikki St Crowe

20 de janeiro de 2024

Hey meu povo!
Como anda o ritmo de vocês neste comecinho de ano? Por aqui as coisas estão fluindo preguiçosamente, este mês eu já criei e recriei várias metas, já organizei e desorganizei vários cronogramas e por ai vai. Estamos em fase de ajustes e, como eu assumidamente possuo uma enorme dificuldade com planejamentos a longo prazo, não consegui definir nada ainda. Dito isso, vamos ao que interessa! Não faz muito tempo que finalizei a leitura de A sombra da terra do nunca, e por ter várias considerações a fazer decidi não esperar para falar dele aqui. O segundo livro da série Vicious Lost Boys começa exatamente onde O Rei da Terra do Nunca parou, e embora este nos apresente um pouco (bem pouquinho mesmo) mais do universo fantástico de Neverland, Nikki segue deixando a desejar em pontos cruciais da história. Obviamente este não é o primeiro dark romance que leio, mas acredito que seja o primeiro cuja execução me desagradou tanto. Ainda assim, não posso negar que mesmo quando o enredo se mostra odioso, a escrita da autora ainda consegue te manter cativo.

A sombra da terra do nunca (The Dark One) 
Coleção: Vicious Lost Boys #02
Autor (a): Nikki St Crowe @NikkiStCrowe
Publicação: Universo dos Livros 
ISBN: 9786556096209 | Skoob
Gênero: Fantasia +18
Ano: 2023
Páginas: 256
Minha avaliação: 2/5★
O segundo volume da série Vicious Lost Boys dá sequência à releitura sombria, perversa e sexy da história de Peter Pan, Wendy e os Garotos Perdidos – todos já mais velhos –, perfeita para fãs de romances dark com relacionamentos quentes e conturbados e com personagens impiedosos ​​e moralmente ambíguos. Winnie Darling passou a maior parte da vida se sentindo morta por dentro. Mas quando conheceu Peter Pan e a Terra do Nunca, tudo mudou e ela finalmente se sentiu viva. Mas nem tudo são flores na mágica e ensolarada ilha. Há algo mais sombrio e sinistro assombrando a floresta, e uma guerra se aproxima. Se Peter Pan não conseguir recuperar sua sombra e assumir seu trono de direito, toda a Terra do Nunca estará em perigo, assim como o sombrio coração de Winnie.

Eu sou completamente apaixonada por narrativas dinâmicas e enredos cheios de reviravoltas que te obrigam a devorar capítulo após capítulo, mas ao contrário do que pode parecer, a agilidade da trama nem sempre remete a uma leitura de qualidade. A Nikki possui uma escrita aprisionadora, e apresenta plots twists dignos de atenção, contudo ela não consegue manter e/ou equilibrar todos os elementos que se propõe a escrever. Temos aqui um dark romance se desenvolvendo em um universo fantástico, um mundo cheio de possibilidades as quais a autora não parece disposta a explorar. A impressão que eu tenho é que a terra do nunca, suas sete ilhas, o povo das fadas, os piratas e toda a magia mencionada, são apenas um reles pano de fundo para a história que a Nikki realmente quer contar, e neste caso seria uma mulher sem qualquer propósito de vida, completamente desesperada para chamar e manter a atenção de quatro homens através do sexo. A relação partilhada por Winnie, Peter Pan e os meninos perdidos, é tão vazia, superficial e muitas vezes humilhante que dificilmente trará ao leitor contentamento. O comportamento degradante da protagonista é só um dos inúmeros fatores desta equação que tinha tudo para ser um sucesso mas que a cada novo livro se torna ainda mais desastrosa.

Atenção: Este livro contém cenas de violência e sexo explícito, é indicado para leitores +18. 
Esta resenha contém SPOILERS.

Depois de muito procurar, Peter Pan finalmente encontrou sua sombra, mas ao contrário do que se esperava ele não conseguiu capturá-la. E agora que a sombra da morte e a sombra da vida estão soltas a mercê de todos, inclusive de seus inimigos, Peter se vê obrigado a iniciar uma caçada que o levará além do seu território, e para isso ele mais do que nunca precisará contar com a ajuda de seus aliados. Os príncipes fae, Bash e Kas, desejam desesperadamente recuperar o que lhes foi tomado na corte das fadas e terão sua lealdade testada como nunca antes. Já Vane, está cada vez mais inclinado a abandonar de uma vez por todas a sombra da morte que luta para dominá-lo, e dessa forma abrir mão da vantagem que ela lhe confere. E no meio disso tudo está Winnie, a garota que tem se dedicado a seduzir e satisfazer os desejos mais sombrios dos quatro amigos. O futuro incerto abre portas que não deveriam ser abertas e revela segredos que há muito foram enterrados, uma guerra se aproxima, e Peter está determinado a vencê-la.

Eu me propus a ler este livro com uma lente de aumento gigante voltada para as migalhas de fantasia que a autora tem jogado vez ou outra. Mas antes de focar no que realmente me interessa eu preciso falar sobre a overdose gigantesca de degradação a qual a Winnie vem se submetendo. Quando escrevi aqui sobre O rei da terra do nunca, deixei claro que não poderia afirmar com certeza se esta ânsia por ser usada sexualmente alimentada pela Winnie se devia a uma necessidade biológica, ou ao abandono que ela enfrentou desde muito cedo. Entretanto nesta sequência, a personagem deixa claro que se submete por que, em suas palavras, isso a faz se sentir menos sozinha. Não posso dizer que estou surpresa, e tão pouco sou capaz de ignorar tal declaração, sendo assim, o envolvimento meteórico que se desenvolveu entre ela e os quatro rapazes me deixou ainda mais incomodada. E isso não se deve ao fato da Winnie estar se relacionando de forma intensa e brutal com quatro homens, o que me perturba são suas motivações e a forma como isto está acontecendo. Uma jovem mulher que acabou de completar dezoito anos, que nunca foi cuidada de forma saudável, que enxerga o sexo e sua capacidade de sedução como suas maiores virtudes e que não só usa isso indiscriminadamente como acredita que este seja seu melhor, quiçá, seu único meio de conseguir o que deseja. Aos meus olhos este cenário tem soado deprimente, principalmente quando ela não se importa em ser ferida violenta e recorrentemente durante o ato.

Agora falando do que eu realmente gosto nesta trama, temos revelações importantes do mundo Fae. Admito que em um primeiro momento posso ter subestimado os príncipes banidos, Bash e Kas são fáceis de gostar, a dupla dinâmica leva praticamente tudo na esportiva, sabem como se divertir e não têm qualquer problema em demonstrar carinho, isso nubla qualquer capacidade de percepção que possa detectar perigo vindo desses protótipos de golden Retrievers. Mas logo abaixo da superfície, existe uma ânsia desesperada que os sonda recorrentemente, conhecer os detalhes do conflito que levou os irmãos ao exílio nos faz entender que existe uma disputa perigosa testando seus limites e sua honra. Capitão James Gancho, foi outro personagem que ganhou certo destaque, fiquei empolgada por finalmente conhecer seu lado da ilha, poder enxergar o mundo por sua perspectiva me deixou incerta quanto a sua vilania. Até o momento, Gancho não me parece sob hipótese alguma pior do que Peter Pan, que se  auto declara um ser terrível sempre que pode. Saber o que deu início a rivalidade entre Gancho e Peter teria me agradado muitíssimo, mas aparentemente isso foi varrido para debaixo do tapete quando Peter afirma que nem ele mesmo se lembra como e nem por que tudo começou, este é só mais um indício claro de que a Nikki não está muito disposta a investir na história.

Além disso, preciso dizer que achei interessante a forma como a autora tem ligado os elementos desta trama, o fato de Cherry, a jovem que vive no território de Peter Pan e é inegavelmente obcecada por Vane, ser a irmã que Gancho teve que entregar após perder uma disputa para o rei da terra do nunca, me surpreendeu bastante. E falando de ligações familiares inesperadas, temos também a questão do irmão de Vane, denominado Crocodilo, não só ser o maior inimigo do Capitão gancho como também ter sido o responsável por decepar sua mão, e eu não poderia deixar de mencionar que tudo isso se deu por Wendy Darling, interesse amoro de Crocodilo, que havia sido sequestrada por Gancho. Mas o rebuliço não para por ai, Wendy também é a causa da inimizade entre Crocodilo e Peter, e coroando toda a situação, a antepassada de Winnie está vivíssima, perdida na terra do sempre e pode, quem sabe, aparecer a qualquer momento. Agora me diz, um bololô desses não merecia mais destaque do que a Winnie "dando" até cansar pra quatro machos? Eu simplesmente não consigo aceitar, uma "romantasia" que tinha tudo pra ser incrível, resumida a quantas vezes a  Darling consegue gozar. 

A sombra da terra do nunca é a composição de vários elementos interessantes que foram mal equilibrados. Não existe uma construção satisfatória do relacionamento que Winnie partilha com os quatro rapazes, e não haveria o menor problema se fosse um envolvimento puramente sexual. Eles mal se conhecem mas se sentem atraídos uns pelos outros, isso é factível. Contudo, a autora tenta nos fazer crer que em pouquíssimo tempo, quatro homens com séculos de existência estão completamente a mercê da jovem ninfeta, e seriam capazes de abrir mão de seus poderes e reinos só para estar com ela. Com muito esforço, eu poderia engolir essa paixão fulminante tomando posse do juízo de um ou dois, mas os quatro, e todos ao mesmo tempo? Sobre Winnie, eu meio que já cansei de falar. Eu acho degradante a forma que ela é tratada durante o sexo, mas o pior de tudo é que ela parece simplesmente não dar a mínima, se o cara cospe na boca dela, a despreza, diminui, xinga e humilha, não é uma questão, afinal ele é lindo e ela quer "dar" pra ele, mesmo que sua vida dependa disso. Juro, não considero nada disso atraente. Em suma, quando os elementos fantásticos da trama estão sob os holofotes é até possível gostar desta leitura, mas isso ocorre de forma breve e em raros momentos. Esta é uma história para quem busca um plot perturbador de harém reverso com leves pitadas de fantasia.

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