Estão lembrados desse carinha aqui? Como ela sabe o que eu penso?, foi apresentado a vocês na coluna Dia de nacional e hoje trago uma impressão mais completa para que vocês finalmente saibam tudo o essa história singular lhes reserva. Ao ler a sinopse desse livro pela primeira vez fui assolada por uma curiosidade extrema, como assim ler os pensamentos através do toque das mãos? Acredito que assim como eu, muitos ficaram interessados em descobrir como um romance que conta com um "toque" extra tão peculiar se desenrolou no final das contas. Curiosos? Então confiram a resenha.
Titulo: Como ela Sabe o Que eu Penso?
Autor(a): J.C.Virgínio
Editora: Talentos da Literatura Brasileira
Ano: 2016
N° de páginas: 173
O que você faria se descobrisse que a pessoa que você ama e com a qual pretende se casar pode ouvir seus pensamentos toda vez que segura sua mão, mas nunca disse uma palavra sobre isso? Anne é uma jovem arquiteta, bonita e bem-sucedida, que tem o que muitas mulheres gostariam de ter: a capacidade de ouvir os pensamentos de seu amor. Apaixonou-se à primeira vista por Eduardo, sabendo de antemão tudo o que se passava em sua cabeça. Eduardo não acredita que alguém tão especial possa se apaixonar por um homem comum sem ser ciumenta e possessiva. Anne não revela ao parceiro sua curiosa habilidade, mas não consegue se controlar ao ouvir os pensamentos estereotipados dele. Acompanhe esta história e ria, emocione-se e divirta-se!
Desde a primeira vez que Anne viu Eduardo, algo se transformou dentro dela, apesar disso sua timidez a impediu de se aproximar e descobrir onde essa sensação a levaria de fato. No entanto, cinco anos depois ela se vê novamente cara a cara com aquele que tem povoado seus pensamentos, e após um primeiro contato meio desastrado Anne descobre que pode ouvir os pensamentos do rapaz, mas não sem antes lhe dar um pequeno choque. Isso mesmo que vocês leram, ao tocar a mão de Eduardo a jovem lhe transmite uma pequena corrente elétrica que lhe permite ouvir os pensamentos dele. Situação duplamente incomum, não é mesmo? Apesar disso nenhum dos envolvidos se importa com essa situação inusitada, ambos estão encantados e não pretendem deixar passar a oportunidade de se conhecerem e quiçá se relacionarem.
A escrita informal do Jean confere a trama uma desenvoltura ainda maior, o que facilita o entrosamento e aumenta a credibilidade dessa história tão surreal. O fato de não termos uma explicação definida para esse "dom?" de Anne não chega a incomodar, pois mesmo a narrativa ocorrendo na terceira pessoa, expressa apenas os fatos que os envolvidos tem conhecimento, e Anne nuca teve certeza do porque dela ter essa capacidade, mesmo que ela já tenha dado choque em seu pai durante a infância, Eduardo é o primeiro que ela consegue ouvir os pensamentos. Confesso que quando iniciei a leitura, achei invasivo e desonesto o fato dela continuar ouvindo tudo o que ele pensava sem lhe informar o que estava acontecendo, mas conforme os pensamentos de Eduardo iam se revelando dei completa razão a garota.
Não que tamanha invasão de privacidade se justifique, mas Anne amava e desejava verdadeiramente ter um relacionamento com Eduardo, que por diversas vezes se mostrou no mínimo um escroto de marca maior, com sua mente extremamente afiada por pensamentos que iam do machismo ao possível adultério. Não sou ingênua ao ponto de acreditar que os pensamentos sexistas do personagem sejam mera ficção, muito pelo contrário, tenho certeza que muitos homens, se não todos (pelo menos em um ou outro momento da vida) pensam: "nossa que mulher gostosa" ou "preciso pegar ela", o fato de essas e outras expressões terem surgido com certa frequência nos pensamentos de Eduardo me incomodaram um pouco. Mas o mais difícil de digerir, foi o fato de Anne "ouvir" tudo isso e achar tudo muito normal, afinal os homens pensam essas coisa mesmo, né? Eu sinceramente acho que não. Não achei normal Eduardo estar com Anne e pensar tão descaradamente em "se aliviar" com outra, e se esse tipo de pensamento é comum na mente de todos os homens como o autor quis passar, eu jamais saberia lidar com um "poder" como esse, no mínimo eu morreria solteira (e feliz), porque sou extremamente drástica com minhas opiniões de valores.
Em contrapartida a evolução de Eduardo é nítida, conforme seu envolvimento com Anne vai amadurecendo é possível vê-lo abandonando, pelo menos em parte, certas ideologias furadas. Outro ponto no qual o personagem apresentou crescimento considerável foi em sua insegurança diante do fato de Anne ser uma arquiteta bem sucedida e com um poder aquisitivo confortável, diferente dele que mesmo cheio de projetos promissores, não estava tão estável financeiramente. Essa situação incômoda para Eduardo foi uma das poucas coisas que ele não conseguiu externar, mas que felizmente com o desenrolar da trama foi perdendo força. Já Anne sempre se mostrou uma personagem mais tranquila e sem muitas neuras, apesar de mimada e inflexível em determinadas situações, suas inseguranças se resumiam basicamente a se Eduardo a amaria e a aceitaria de verdade, bem mais compreensíveis, pelo menos pra mim.
Como ela sabe o que eu penso?, foi uma leitura cheia de altos e baixos, com um desfecho extremista porém surpreendente e necessário. Em um conjunto geral posso dizer que a carga dramática é bem maior que a humorística, poucos foram os momentos em que eu ri com a leitura, mas por outro lado senti raiva, me solidarizei e torci, mas torci loucamente para que Eduardo abandonasse seus pensamentos engessados e jurássicos, e por fim, quero acreditar que isso de fato ocorreu. Além disso, a trama nitidamente nos faz refletir sobre os limites que devem existir para que uma relação seja saudável para ambas as partes e que ultrapassar esses limites poderá acarretar sérias consequências aos envolvidos, bem como nos mostra que o respeito é essencial para se desenvolver a confiança necessária para que um envolvimento se torne real e duradouro. Recomendo a leitura para quem está a procura de uma premissa singular, permeada de clichês e que se desenvolve de forma naturalmente leve, com um toque de humor.
Cortesia: J.C.Virgínio