[Resenha] Corte de Espinhos e Rosas - Sarah J. Maas

12 de novembro de 2025

Olá meu meu povo!
Minha vida com livros se resume facilmente em antes e depois de Corte de Espinhos e Rosas. Ler esta obra foi, sem sombra de dúvidas, meu divisor de águas literário. Meu primeiro contato com a escrita da Sarah J. Maas abriu meus horizontes para um gênero que eu acreditava não gostar, e ao qual, até então, sequer havia dado uma chance real. Já nas primeiras páginas, entendi que havia encontrado um estilo de história capaz de fazer vibrar cada célula do meu corpo: a escrita, o enredo, a ambientação, os personagens... Era tudo atraente demais para se manter indiferente. E hoje, cerca de seis anos após esta experiência ímpar, decidi revisitar este universo. Imaginem a minha surpresa ao perceber que o meu eu de hoje amou tudo tanto quanto ou talvez até mais que o meu eu do passado. Sarah ainda é um fenômeno, sua bibliografia cresce com o passar dos anos e eu sigo fã, do tipo que anseia por suas novas publicações e que leria até sua lista de compras. Corte de Espinhos e Rosas é o primeiro livro de uma série em andamento, mas, indo além do óbvio, é meu primeiro amor fantástico.

Corte de Espinhos e Rosas (A Court of Thorns and Roses) 
Autor (a): Sarah J. Maas @SJMaas
Publicação: Galera
ISBN: 9788501105875 | Skoob
Gênero: Fantasia +16
Ano: 2015
Páginas: 434
Minha avaliação: 4/5★
Depois de anos sendo escravizados pelas fadas, os humanos conseguiram se libertar e coexistem com os seres místicos. Cerca de cinco séculos após a guerra que definiu o futuro das espécies, Feyre, filha de um casal de mercadores, é forçada a se tornar uma caçadora para ajudar a família. Após matar um féerico transformado em lobo, uma criatura bestial surge exigindo uma reparação. Arrastada para uma terra mágica e traiçoeira que ela só conhecia através de lendas, a jovem descobre que seu captor não é um animal, mas Tamlin, senhor da Corte Feérica da Primavera. À medida que ela descobre mais sobre este mundo onde a magia impera, seus sentimentos por Tamlin passam da mais pura hostilidade até uma paixão avassaladora. Enquanto isso, uma sinistra e antiga sombra avança sobre o mundo das fadas e Feyre deve provar seu amor para detê-la... Ou Tamlin e seu povo estarão condenados.

Releitura nunca foi um hábito para mim. Eu costumava acreditar que as primeiras impressões deveriam permanecer, não importa quão boa ou ruim uma história fosse; contudo, o tempo traz experiências e reformula nossas crenças e opiniões. Minhas percepções atuais me fizeram entender que vivências pessoais contribuem ativamente para a nossa visão de mundo e, dessa forma, o que parecia preto antes pode parecer branco em algum momento no futuro. Ainda assim, nada disso é uma matemática exata. Mas a possibilidade existe, sabe? Muitas vezes, as coisas se transformam e precisamos estar dispostos a enxergá-las de todas as formas possíveis. Então, hoje eu releio livros e revejo opiniões. Neste caso em específico, confesso que tive muito receio de não amar esta obra como na primeira vez, mas meu temor se provou infundado. Ao mesmo tempo em que alimentei a sensação de estar na companhia de um velho amigo, parecia que eu o estava lendo pela primeira vez.

Para garantir a sobrevivência de seu pai e de suas irmãs, Feyre se tornou caçadora ainda muito jovem. Ela residia próximo à muralha mágica que separa o território humano do domínio feérico. Essas duas sociedades cumprem, há séculos, um tratado de paz que tem se deteriorado rapidamente. Quando Feyre caça e abate um feérico transmutado em um lobo gigante, o frágil equilíbrio entre os povos é abalado. Ela se vê obrigada a cumprir o acordo imposto por Tamlin, o temido Grão-Senhor da Corte Primaveril. Sustentado por um pacto antigo, ele exige a vida dela em troca da criatura assassinada. Assim, Feyre é forçada a deixar sua família e é levada para Prythian para viver na corte de seu captor, um lugar deslumbrante, repleto de riquezas e encantos com os quais a jovem jamais ousou sonhar. Enquanto questiona tudo que lhe foi ensinado sobre os imortais, Feyre percebe que a hostilidade que nutre por Tamlin está se transformando em algo diferente. Contudo, uma infinidade de segredos e perigos que põem em risco a existência de todos estão a espreita. Uma praga misteriosa se alastra rapidamente, uma maldição antiga se manifesta e um romance surge em meio às adversidades.

Da mesma forma que reler este livro confirmou que, apesar dos anos, continuo apaixonada por sua história, também pude reforçar meu desprezo pelos familiares da Feyre. Não consigo aceitar o descaso que a mais jovem da família precisou enfrentar. Simplesmente não entra na minha cabeça que um pai e duas irmãs mais velhas se sentaram na sala em frente à lareira enquanto uma adolescente de apenas quatorze anos entrava na floresta, no inverno e sozinha, para não deixá-los morrer de fome. E que isso perdurou por muitos anos. Dia após dia, os três esperavam a menina retornar para usufruir de seus feitos, sem o menor pudor ou constrangimento. E se tais atitudes já não fossem condenáveis o suficiente, ainda precisamos lidar com as personalidades indigestas dos três: o pai covarde e acomodado, que se entregou à inércia; Nestha, a primogênita arrogante, antipática e intragável, que, além de ser incapaz de demonstrar gratidão, sempre tratou Feyre com desprezo injustificado; e, por fim, mas não menos importante, temos Elain, a irmã do meio, sempre vivendo em sua bolha cor-de-rosa, cheia de flores e jardins, a "frágilzinha, delicadinha" demais, sem senso de realidade e/ou de dever. Juro que renovei meu "ranço" pelos três e, mesmo que a Sarah tenha planos de redimi-los e trabalhar suas motivações, não creio que conseguirei olhar com bons olhos as pessoas que tornaram a vida dela tão impossível, que ser levada por uma fera para um mundo hostil e cheio de perigos mortais tornou-se a melhor coisa que poderia ter-lhe acontecido.

Indo além dos dramas familiares da protagonista, temos incontáveis informações que precisamos absorver. Existe uma guerra sendo travada há séculos no reino feérico, e uma das principais causas deste conflito são os humanos, que foram libertos da escravidão após uma enorme revolta que contou com o apoio de poderosos Grão-Senhores. O fato é que quinhentos anos após o fim do conflito, muitos líderes ainda se ressentem de terem perdido parte de seu território e sua mão de obra barata, e desejam reavê-los custe o que custar. A chegada de Feyre à Corte Primaveril, uma das sete cortes que compõem Prythian, é vista como a última chance de salvação deste povo que, além da iminência da guerra, enfrentam uma praga que os atingiu há cerca de cinquenta anos. A humana com gelo no coração, disposta a matar criaturas feéricas, finalmente se apaixonaria pelo Grão-Senhor e quebraria sua maldição? Embora Tamlin possua características e comportamentos que deixam claro a fera que o habita, ele tenta, a seu modo, tornar seu castelo um lar para a jovem caçadora. E mesmo que ela resista veementemente a princípio, o cuidado e a proteção que lhe são dedicados preenchem com certa facilidade o vazio deixado por sua família negligente. A amizade com Lucien torna o processo de adaptação ainda mais agradável; o Grão-Senhor da Corte Outonal, emissário e melhor amigo de Tamlin, possui um humor ácido e um tom irônico que diverte mais e mais a cada nova interação.

Corte de Espinhos e Rosas é uma releitura de "A Bela e a Fera" extremamente cativante, as referências estão todas lá, despertando uma sensação gostosa de familiaridade. Sarah J. Maas possui uma escrita simples, direta e aprisionadora, capaz de fisgar o leitor já nas primeiras páginas. A construção detalhada dos elementos que compõem a trama nos transporta para um mundo repleto de magia, aventura, romance, intriga política e perigos inenarráveis. Os cenários e personagens são atraentes, cada um à sua maneira. Prythian é, sem sombra de dúvidas, um universo ao qual desejo conhecer profundamente; estou ansiosa para explorar cada uma das Sete Cortes e conhecer cada particularidade de seus Grão-Senhores. E, embora não tenha me encantado completamente por Feyre, solidarizo-me com sua trajetória e quero descobrir o que o destino lhe reserva. É uma história que entretém, feita sob medida para quem ama a típica romantasia clichê, protagonizada pela humana que, apesar das suas fragilidades, demonstra força, coragem e honra, desafia o sobrenatural e arrisca tudo que tem por aquilo em que acredita.

Nenhum comentário

Postar um comentário