Este ano os escritos de Graciliano Ramos, um dos maiores romancistas da literatura nacional, entraram em domínio público. Sendo assim, a editora Record, que publica a obra completa do autor, deixa de ter direitos exclusivos. Isso possibilita que Vidas Secas, Angústia, São Bernardo e todos os outros livros de sua autoria possam ser livremente reproduzidos por qualquer editora. E não deu outra, uma infinidade de novas edições das principais histórias de Graciliano Ramos chegaram as livrarias nestes primeiros meses de 2024, então reuni aqui 14 edições novas e antigas de Vidas Secas, um de seus livros de maior sucesso. A história de uma família de retirantes que enfrenta uma vida difícil castigada pela seca enquanto peregrinam pelo sertão nordestino, é ainda hoje, quase noventa anos após sua primeira publicação, um retrato atual, cruel e verdadeiro sobre o Brasil.
Ilustração de Joaquim Rodrigues dos Santos
Graciliano Ramos nasceu em 1892, no interior de Alagoas, e cresceu na fazenda do pai antes de se mudar para a capital do estado e, posteriormente, para o Rio de Janeiro, onde começou a trabalhar na imprensa. Em 1937, foi preso sob vagas acusações de defender ideologias comunistas. Ao deixar a prisão, procurou trabalho como jornalista em um jornal do Rio de Janeiro. O editor então lhe permitiu publicar um texto curto, e Graciliano escreveu um conto chamado “Baleia”, sobre o sofrimento e a morte da cachorrinha de uma família de retirantes sertanejos. O conto fez sucesso e o jornal encomendou outros no mesmo estilo. Graciliano produziu então um conto para cada membro da família: o pai, a mãe e os dois filhos. Nascia assim Vidas secas, narrado em terceira pessoa, com treze capítulos que, por não terem uma linearidade temporal, podem ser lidos fora de ordem, como contos.
Lançado originalmente em 1938, Vidas secas retrata a vida miserável de uma família de retirantes sertanejos obrigada a se deslocar de tempos em tempos para áreas menos castigadas pela seca. O pai, Fabiano, caminha pela paisagem árida da caatinga do Nordeste brasileiro com a sua mulher, Sinha Vitória, e os dois filhos, que não têm nome, sendo chamados apenas de “filho mais velho” e “filho mais novo”. São também acompanhados pela cachorrinha da família, Baleia, cujo nome é irônico, pois a falta de comida a fez muito magra.
Vidas secas pertence à segunda fase modernista da literatura brasileira, conhecida como “regionalista” ou “romance de 30”. Denuncia fortemente as mazelas do povo brasileiro, principalmente a situação de miséria do sertão nordestino. É o romance em que Graciliano alcança o máximo da expressão que vinha buscando em sua prosa: o que impulsiona os personagens é a seca, áspera e cruel, e paradoxalmente a ligação telúrica, afetiva, que expõe naqueles seres em retirada, à procura de meios de sobrevivência e um futuro.
Edições publicadas em 2024 pelas editoras Antofágica e Principis, respectivamente
Edições publicadas em 2024 pelas editoras Temporalis e Via Leitura, respectivamente
Edições publicadas em 2024 pelas editoras Penguin-Companhia e Excelsior, respectivamente
Edições publicadas em 2024 pelas editoras Vitrola e Rordaz Publishing Company, respectivamente
Edições publicadas em 2023 pela Amazon e Montecristo Editora, respectivamente
Edições publicadas pela editora Record em 2018 e 2019, respectivamente
Edições publicadas pela Galera (2015) e pela Estrela Cultural (2024), respectivamente
Em 2015 a editora Galera publicou uma adaptação para Grafic Novel que une o traço do premiado quadrinista Eloar Guazzelli ao texto clássico de Graciliano Ramos. Com roteiro de Arnaldo Branco - responsável pela adaptação em HQ de outros clássicos da literatura brasileira, como Véu de noiva e O beijo no asfalto, de Nelson Rodrigues -, a história da jornada da família de retirantes sertanejos em busca de água, comida e melhores condições de vida ganha ritmo. Respeitando o texto original, esta Graphic novel transforma e dá nova dimensão ao romance, consolidando-o como a história de um Brasil, infelizmente, mais que atual. Inclui quarta capa inédita assinada por Bruna Beber.
Em 2024 foi produzida pela editora Estrela Cultural uma adaptação inédita para o cordel, onde o mestre cearense Stélio Torquato Lima preserva todo o rico conteúdo da obra original, permitindo aos leitores ter contato com a realidade dura vivida pelos sertanejos nordestinos. Aqui a linguagem própria da poesia popular e as ilustrações de Jô Oliveira, o premiado ilustrador pernambucano, possibilitam um novo olhar para a belíssima obra de Graciliano.
Estou viajando em seu blog, quero começar o meu
ResponderExcluirComeça sim. Ter um blog é algo maravilhoso.
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