Projeto Com amor, por favor, sem flash - 2º sorteio

14 de outubro de 2013

Oi Bibliófilos.!

Hoje trago pra vocês a segunda cartinha que recebi através do projeto Com amor, por favor, sem flash, organizado pela Sarah Marques do blog Endeless Poem, Para saber mais sobre o projeto cliquem no (Link). Quem me enviou a cartinha foi a Lígia Maria do blog Chá com Bolacha, conheci o blog da Lih através do projeto e me apaixonei completamente pela escrita dela ao receber a cartinha. O tema dessa rodada foi Música. A Lih me enviou um texto lindo, que me encantou desde as primeiras linhas. Quer se encantar também??? Então confiram o texto.!

Ela


1.
Eu odiava a maldita escola! As estupidas carteiras pichadas, os uniformes bregas com o logo da escola, as panelinhas ridículas, as conversas medíocres e todo o resto. Bom na verdade nem tudo. Tinha uma coisa que eu não odiava. Uma coisa não alguém. 
Era ela.
Eu sempre sabia que ela entrava na sala porque meu estupido coração tinha que bater descompassado. E também porque é meio difícil não ver alguém que pinta o cabelo colorido. E já falei da mochila dela?? É uma mochila tão cheia de coisas penduradas e faz barulho quando ela anda. Assim é ainda mais fácil saber que ela chegou. E eu sou tão idiota que reparo sempre ela muda algum chaveiro ou acrescenta alguma coisa naquela mochila. É tão patético que acho que os patetas da escola estão rindo de mim, talvez eu tenha que bater neles mais tarde. Só disso que eu preciso agora, fazer alguém levar o pato. Tão fácil, eu bato o pé e os nerds correm, é incrível, apesar de que eu sei, num futuro distante serão eles com seus ridículos cadernos imaculados e notas incríveis que serão meus patrões e eu vou pagar por isso. Mas droga, não agora.
Onde eu estava, lembrei, falando dela. Um fato importante é que nos sentamos lado a lado desde o primeiro ano do colegial, culpa do Diretor e suas técnicas medievais que dizem que nos devemos nos manter com a mesma turma e graças ao infortúnio da lista de chamada determinar aonde sentamos, ela sempre esta do meu lado. Todo santo dia eu sou obrigado a sentir o perfume dela, ouvir o barulho da mochila dela, assistir enquanto ela escreve no caderno com uma caligrafia que faz jus a ela, mas é só isso. Nunca falei de verdade com ela. Bom, menos naquela vez que eu pedi cola pra ela e ela me ignorou, aquela vez que eu chutei a mochila dela e ela perguntou se eu era cego, devo ter dado alguma resposta porque ela me xingou de “idiota” em alto e bom som. Eu disse, sou patético.
Enfim, acontece que hoje é provavelmente a ultima vez que nos vemos, ou melhor que reparo nela e ela ignora minha existência, e tudo porque finalmente as aulas chegaram ao fim e desde que eu resolvi que queria me livrar da escola o mais rápido que pudesse, eu me esforcei nas provas e passei em tudo, então hoje é a festa de despedida da sala e nunca mais eu coloco meus pés aqui. Ultima vez que eu reparo que ela trocou os chaveiros da mochila, que agora o cabelo dela tá mais curto, que ela apertou a calça do colégio, que o estojo dela quase arrebenta de tantas canetas coloridas que ela tem, que ela ouve musica num volume só para ela, que ela gosta de desenhar estrelas na mesa, que ela resmunga baixinho quando não entende alguma coisa, que ela aparece cada Segunda feira com um livro novo pra ler, que ela tem varias capas pro celular dela, que ela e a amiga dela falam mal das panelinhas da sala, que ela adora maçãs de lanche, que ela faz biquinho quando escreve, a ultima maldita vez que eu me pego sonhando com ela, a ultima maldita vez que eu vou sentir meu coração palpitar quando ela entra na sala, a ultima vez que eu vou sentir minhas mãos suando quando ela olha pra mim.
Cara eu sou tão patético.
O sinal vai tocar a qualquer momento, estou livre dela, livre dos grandes olhos dela, livre desta escola estupida pra seguir minha vida, ou talvez me afundar na sala jogando vídeo game e dormindo até tarde enquanto minha mãe deixar, depois eu arrumo um emprego que mantenha meus cigarros e livros, livros que alias são iguais aos que ela lia a cada nova Segunda feira. Eu tive medo no inicio, garotas gostam de romances açucarados, mas não ela, ela tem um gosto incrível, com todo tipo de personagem que, cara, não da pra acreditar que leia esse tipo de coisa. Queria descobrir sobre as musicas que ela gosta, mas agora não importa mais.
O sinal vai tocar a qualquer momento. E eu acho que esta demorando de mais, mas ai começaram a fazer uma contagem regressiva, interrompendo o discurso interminável do nosso professor de Geografia. Ele sempre falou de mais e agora queria falar sobre futuro. Não tenho paciência pra isso e ela também não, sei disso porque ela esta fazendo careta pra ele. Ela também não gosta das aulas de Historia e eu já peguei ela dormindo na aula, só que ai eu me peguei sonhando acordado com ela dormindo ao meu lado.
Meu amigo Dick esta do meu lado batendo na minha mesa durante a contagem, ele sempre gostou de aparecer.
O sinal finalmente toca, olha para ela uma ultima vez e saio pelo portão do colégio com meu melhor amigo pendurado no meu ombro e cantando musicas ridículas das nossas bandas favoritas. 
Finalmente acabou.

2.

- Cara, se você for eu vou!  - Dick esta na minha casa de novo, às vezes acho que ele não tem nada melhor pra fazer, mas claro, eu agora também não tenho.
- Acho que você não vai então. – Estou abrindo outra lata de Coca, ainda é cedo e minha mãe surtaria se eu bebesse cerveja agora.
- Cara, mas pode ser legal! – Estou ficando cansado dessa insistência.
- Faz assim, você vai e me conta depois por sms como foi, porque eu não vou.
E o desgraçado faz sua jogada de cheque mate.
- Ela vai Tim.
Droga, nunca deveria ter contado sobre ela pro Dick, isso virou a muleta de salvação dele em algumas situações, como naquela vez que não queria ir ao passeio do colégio, mas ele queria ir e me disse que ela, só pra depois ela não ter ido graças a uma gripe. Soube da gripe depois porque eu ouvi a conversa dela com a professora.
O fato é que, eu sei lá o porque, Dick e eu estávamos numa conversa sobre sentimentos,  eu deveria estar bêbado ou algo assim, e num ridículo lapso de momento contei a ele sobre ela. Ele bateu no meu ombro, maneira que os homens tem de se cumprimentar quando estão consolando um ao outro, mas agora, ele usa ela pra conseguir coisas pra ele. Não que eu não use a paixão secreta dele contra ele.
Eu me sento devagar no sofá e penso na situação. De fato não tenho nada melhor pra fazer, e a minha sala resolveu fazer um passeio a um parque ecológico (nunca vou entender essa escolha)pra gente fazer um pic nic. Pic nic. Só eu acho essa ideia idiota?? Droga parece que nos formamos na pré escola. Eu resmungo, mas é claro, Dick não desiste.
Dick é meu melhor amigo desde sempre. Crescemos juntos e como eu já expliquei como funcionava nossa escola, ficamos na mesma sala. Atualmente o cabelo dele esta  comprido o bastante pra ele precisar amarrar as vezes, a pele é branca que a Branca de Neve teria inveja  e um impressionante gosto por camisetas de bandas. Juro acho que nunca vi ele sem uma camiseta de banda. Claro, o uniforme não conta, mas ele as usava por baixo. Ah e tem a touca, é uma touca que ele ganhou da avó dele, e como bom menininho da vovó que ele nunca mais ele tirou. Minha mãe briga com ele falando que o cabelo dele vai estragar por causa da touca, mas ele não esta nem ai. E o cabelo dele nunca esta sujo. Ele é vaidoso. Acho que é por isso que às vezes ele passa as meninas ficam dando risos nervosos. Nunca vi ele dar bola pra nenhuma delas.  Assim como eu, ele é um patético apaixonado.
- Tim, serio, quem sabe é nossa chance. A gente leva alguma coisa pra comer ou beber, porque pediram e depois de uma tarde agradável no parque, você se joga nos pés dela, declara seu amor por ela, tem 5 filhos, um cachorro depois se divorciam e você bebe até criar barriga e passa o resto de seus dias comendo salgadinhos e vendo Oprah.
- Que merda de futuro é esse?? E porque temos que nos divorciar?? – Notem, eu não tenho nada contra os 5 filhos
- Um fato meu amigo. Mas não se preocupe, ficarei do seu lado nos momentos de alegria e tristeza e moraremos juntos pra rachar o dinheiro da Tv para vermos a Oprah.
- Quero você longe do meu futuro. E você?? Vai levar seus 8 filhos pra brincar com os meus??
- Claro que não! Criaremos gatos. Isso sim é vida. E quando ela pedir o divorcio por não aguentar mais eu esquecer os aniversários de casamento eu fico com os gatos.
- Não gosto de gatos, você vai morar sozinho então e ver Oprah com seus gatos.
Depois dessa discussão ridícula sobre gatos e Oprah, a ultima coisa que eu me lembro é que estou de banho tomado, uma camiseta de algum personagem de HQ e estou no mercado comprando a estupida Coca pro Pic Nic que eu não queria ir.

3.

O parque é um lugar bonito, mas de verdade, nunca vi muita graça nele. Você vê arvores e muita grama, a graça acaba ai. Mas claro o pessoal da sala esta todo lá, estão estendendo uma enorme toalha de mesa no chão e todo mundo esta colocando alguma coisa nela. Claro a maioria levou coisas pra beber. E eu juro que o Guaraná que o Elias trouxe esta batizada porque aquele gosto não é normal.
Graças ao sol de hoje, as meninas estão com roupas leves, o que é legal de se ver, mas não, ela tinha que vir de calça e óculos escuros. Parece tão entediada quanto eu e veio de mãos abanando. A mochila esta nas costas, o que não é surpresa, mas nas mãos dela tem uma câmera. Não uma câmera dessas digital rosa, não combina com ela e ela sabe disso. É uma câmera dessas antigas e eu gosto. Ela mira a câmera na toalha de mesa cheia de garrafas e uns doces, mira nos grupinhos fazendo pose, mira nas meninas conversando, mira em um cara que passou com um vira lata na coleira (tomara que só tenha tirado foto do cachorro), mira a câmera em tudo menos em mim.
Ótimo, não quero que ela me fotografe! Cruzo meus braços e assisto ela mirando aquela câmera em tudo e em todos. Ela esta sorrindo e eu sei que ela gosta de fotografar. Sempre que ela abaixa a câmera ela esta sorrindo. Sei lá o porquê, eu pego meu celular e miro a câmera discretamente nela, não quero ser pego no meu ato estupido, mas eu tenho que ter esse momento para mim. Ela mora a foto no lago perto de uma arvore retorcida e eu miro nela, no mesmo momento em que eu escuto o click da maquina dela, o meu celular faz o mesmo barulho. Devo estar sorrindo que nem um idiota, porque Dick olha pra minha cara e faz aquele sorriso de quem depois vai me zoar, mas eu não ligo. Tenho uma foto dela. Uma estupida foto de perseguidor, mas eu tenho uma foto. Minha. Um momento dela que é só meu. 
A droga do dia pode acabar que eu não ligo mais. Meus pais podem ser levados por Aliens que eu não vou ligar, meu melhor amigo pode cair no estupido lago e ser levado por seres místicos que eu vou achar lindo, e tudo porque eu tenho uma foto dela. Só minha. Ela esta lá, com sua mochila, os cabelos coloridos, tudo. 
Já esta tarde quando o pessoal se despede, Dick avisa que não vai pra minha casa, mesmo que de fato, eu não tenha convidado, todo mundo esta indo embora porque já esta ficando escuro e não acho que este parque seja de fato seguro. Estou perto da porta do parque, com as mãos no bolso, quando um flash na minha direção me para. Eu sinto o ar deixar meus pulmões e a garganta fechar, eu sei quem é culpado por aquele flash, mas quando eu me viro, ela passa por mim sem dizer nada. A Mochila nas costas e fone nos ouvidos, só que dessa vez, enquanto estou parado como uma estatua viva, ela se vira e sorri. E fala:
- Estamos quites agora.
Uma foto minha. Ela queria uma foto minha. Droga, ela tem uma foto minha agora. Estou de novo sorrindo feito um idiota e estou envergonhado como um, porque ela sabe da minha foto dela. Me pergunto do que mais ela sabe. Estou tentando fazer minhas pernas se moverem, quero correr, vou correr até ela. Chego perto dela, olho para ela, ela parou de andar e olha pra mim, acho que estou tremendo agora. Dane-se, eu tenho que dizer alguma coisa!
Mas só o que eu digo é:
- Eu te amo.
Ela sorri, sinto meu estomago afundar. Acho que meu coração vai parar.
- Você é tão idiota.
Mas ela segura minha mão. Ela não solta minha mão, não quero que ela solte minha mão. Alias, eu ainda estou tremendo, mas estou sorrindo como um idiota de novo.
Mas ela esta comigo. 
Isso basta.

Lígia Maria

Mais uma vez obrigado Ligia, amei sua cartinha, estou adorando fazer parte desse projeto maravilhoso. Parabéns a Sarah pelo projeto. E vocês pessoal, o que acham do projeto?? E o que acharam das cartinhas???

6 comentários

  1. Nossa, a Lígia caprichou na carta hein, aja criatividade. Adorei o texto. Pena que não participo mais do projeto, mas adoro ver o que vocês aprontam.. hehe Beijos, Mi

    www.recantodami.com

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  2. Oie,
    adorei o projeto, eu nunca tinha ouvido falar. Linda a cartinha!!

    bjos

    http://blog.vanessasueroz.com.br

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  3. Adoreeei, eu nunca tinha ouvido falar também!
    Beijinhos.
    contornoperfeito.blogspot.com.br

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  4. Oiiii *-*
    Ouhhnn que indo fico tããão feliz que vc tenha gostado da minha carta *-*
    Serio tava mais ansiosa pra saber o que vc tinha achado do que receber a minha carta XDD
    Que alias eu não recebi ainda T-T
    Mas serio mto feliz q vc tenha gostado e obrigada pelos elogios *-*
    BJoos sua linda <333
    http://chacombolacha.blogspot.com.br/

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  5. Nossa que carta linda!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    meninas que projeto maravilhoso.E esta carta esta incrível. Adorei ler cada paragrafo e de como a historia foi se fazendo.PARABÉNS!!!!!!!!!!!!!

    Beijokas Ana Zuky

    Blog Sangue com Amor

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  6. Oi Delmara! Amei a carta da Lígia, ela escreve muito bem, a proposito? Será que esta história continua? Estou curiosa Lígia. Eu acho o projeto maravilhoso, e vou participar nesta rodada *_*
    Bjus

    vestido-de-papel.blogspot.com.br

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