Sociedade das Relíquias Literárias (#045) A Princesa Coração de Gelo - Senhora Molesworth

8 de dezembro de 2023

Olá pessoal!
Recentemente eu descobri o Clube do Livro da editora Wish, e estou em êxtase. A Sociedade das Relíquias Literárias foi criada com o intuito de resgatar obras antigas que foram populares em sua época mas que se perderam no tempo. O projeto se mantém graças ao apoio de seus membros no Catarse que, pagando uma taxa única no valor de R$ 8, financiam a tradução e edição das obras. Os apoiadores tem acesso mensal a um conto/noveleta em versão digital, e semestral, a uma ficção longa completa, também em formato digital. Além disso, é liberada uma ilustração exclusiva para cada história publicada através da Sociedade. Incrível, né? Mas não para por ai, algumas histórias já estão disponíveis para o público geral na amazon. O conto deste mês é obviamente uma história de natal, A princesa coração de gelo foi escrito por Mary Louisa Molesworth, mais conhecida como Mrs. Molesworth (ou Senhora Molesworth para nós), uma das escritoras de histórias infantis de maior sucesso do final do século XIX e início do século XX.

A princesa coração de gelo (The Christmas Princess)
Autor (a): Senhora Molesworthe
Publicação: Wish
ISBN: 9788567566702 | Skoob
Gênero: Fantasia / Conto
Ano: 2023
Páginas: 39
Minha avaliação: 4/5★
E-book disponível na Amazon
Para ajudar a governar o povo, o rei Coração Valente conta com quatro conselheiras muito sábias: as fadas do Norte e do Sul, do Leste e do Oeste. Quando ele é levado a uma missão oficial por uma delas, a rainha Claribel se ressente por ser deixada grávida e sozinha. O que ela não esperava é que seu ressentimento traria uma maldição para sua filha. Agora, será preciso um milagre para derreter o coração da princesa. Ou, talvez, uma ideia bem inusitada. Publicado em 1895, A Princesa Coração de Gelo é um conto de fadas natalino escrito por uma das maiores autoras da literatura infanto-juvenil do século XIX.

Eu não poderia deixar de registrar o quanto estou impressionada com este projeto. O trabalho de curadoria está impecável e como resultado disto temos, sem sombra de dúvidas, verdadeiras relíquias literárias em mãos. Este conto em si não trás nenhuma abordagem extraordinária, em se tratando de literatura infantil/juvenil a história da Princesa coração de gelo nos lembra de uma outra bem conhecida nos dias atuais. A trama possui narrativa e desenvolvimento condizentes e trás lições pertinentes com o esperado para o seu público alvo. No meu ponto de vista, o grande diferencial desta obra está na possibilidade de conhecer um pouquinho de quem foi Mary Louisa Molesworth, uma escritora que contribuiu enormemente para que a literatura juvenil viesse a se tornar o que ela é hoje, mas não conseguiu manter seu nome sob os holofotes ao longo das décadas. Foi uma satisfação sem tamanho ter a oportunidade de acessar este pequeno fragmento do passado e não abro mão de repetir esta experiência outras vezes.

Ilustração de Giovanna Teixeira

O Reino dos Quatro Terrenos era governado pelo Rei Coração Valente, um homem digno que amava seu povo e era amado por eles. Para atender de forma justa as demandas de todo o seu território o rei contava com a ajuda de quatro conselheiras, as fadas do Norte, do Sul, do Leste e do Oeste. Coração Valente era casado com a Rainha Claribel, uma jovem encantadora e devotada, mas também muito mimada e ciumenta. Quando a rainha engravidou da primeira filha do casal, o rei precisou atender ao chamado da fada do Norte, pois o povo estava sofrendo e precisava urgentemente da atenção e do auxílio do monarca. A partida do rei provocou a ira da rainha que se revoltou com o fato da fada do Norte ter ousado convocar seu marido quando ela estava prestes a dar a luz. O nascimento da princesa antecipou o retorno do rei, e com ele vieram todas as conselheiras que presenteariam a menina com grandes bênçãos. Das fadas do Sul, do Leste e do Oeste, a princesa recebeu como dádivas beleza, inteligência e saúde, respectivamente. Já da fada do Norte, que foi amplamente hostilizada pela rainha durante a cerimônia, a pequenina recebeu uma maldição, e cresceria com um coração de gelo, isso só poderia ser revertido se algum dia ela derramasse uma lágrima.

Ela não conhecerá o sofrimento que você, de forma tão covarde, teme para ela. Ela será o que você imagina que eu seja. E, em vez do nome que você deu a ela, a menina será conhecida pelo que é: Princesa coração de gelo.

Tão difícil quanto encontrar o amor verdadeiro, é uma moça de coração frio e duro como gelo derramar uma lágrima. Tardiamente a rainha entendeu que sua atitude pueril trouxe um castigo imerecido para a pequena princesa mas não havia nada que ela pudesse fazer para reverter a situação. A esta altura do imbróglio eu já havia me esquecido que se tratava de uma história infantil e já alimentava um ranço gigantesco por Claribel, inclusive deixo aqui um destaque especial para a paciência e o auto controle de Coração Valente, que viveu tantos anos com a rainha chata e não perdeu a cabeça completamente. A maldição tornou a Princesa coração de gelo, uma jovem totalmente desprovida de sentimentos, e nem sua beleza, riqueza e inteligência eram atrativas o bastante para suplantar sua falta de empatia. 

A princesa coração de gelo é uma obra de rápida leitura, e como toda história do tipo nos presenteia com algumas lições importantes. Molesworth trás em sua narrativa referências ao clássico A bela adormecida, mas também desenvolve elementos que destoam do óbvio. O fato da rainha não ser uma mulher má e mesmo assim apresentar características negativas que geram certo incomodo no leitor, bem como ter sido, em grande parte, a responsável pela desgraça que se abateu sobre a filha, foi uma grata surpresa pois humaniza a personagem e deixa claro que mesmo nos contos de fadas ninguém é totalmente bom ou totalmente mal. Essa dualidade também pode ser notada na construção da fada do Norte, que embora seja considerada fria por todos e tenha chegado ao ponto de amaldiçoar um bebê, dá inúmeros indícios de que não é, sob hipótese alguma, uma vilã em sua totalidade. Meu único incômodo foi não ter tido tempo de gostar da princesa, cuja frieza coibiu todo o carisma que ela poderia vir a ter. De modo geral, esta foi uma leitura agregadora, que deixou sua marca apesar da brevidade.

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